Retrospetiva do atletismo em Moçambique

 

César Manuel Delgado Torres Nhamitambo

Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Escola Superior de Ciências do Desporto (ESCIDE). Mozambique. nhamitambo57@yahoo.com.br  https://orcid.org/0009-0000-6301-2664

Reynaldo Juan Estrada Cingualbres

Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Escola Superior de Ciências do Desporto (ESCIDE). Mozambique. restradac27@gmail.com  https://orcid.org/0000-0003-1437-9798

 

Recibido: 4/IV/2023

Aceptado: 1/VI/2023

Publicado: 1/VII/2023

 

Resumo: A necessidade de disseminar informação e trazer mais uma fonte na abordagem do atletismo no Moçambique, motivou aos autores à revisão e busca do incipiente, mas sempre importante desenvolvimento histórico de um desporto que como o futebol, o basquetebol e o voleibol, também é paixão no Moçambique. Para sua elaboração buscaram-se ideias de vários autores, especialistas da modalidade recomendam, incorporando algumas partes de textos lidos procurando dar um sentido lógico da abordagem, de forma a servir como meio de trabalho sempre útil para estudantes e outros interessados, na expectativa de poder ajudar a encontrar respostas sobre a modalidade. As fontes foram diversificadas de entre consultas a livros, a internet e também recorreu-se a pessoas que se apaixonaram e participaram das actividades desportivas nos clubes, associações, federação e quiseram emprestar o seu saber para dar base a formação da juventude nesta matéria. Também tem o cunho de compromisso do seus elaboradores com a Escola Superior de Ciências do Desporto (ESCIDE) ao usar da suas experiências práticas e teóricas como atletas e profissionales, treinadores ou coach a vários anos a lidar com a formação de professores de Educação Física e actualmente na Escola Superior de Ciências do Desporto.

Palavras-chaves: atletismo; retrospectiva

Panorámica del atletismo en Mozambique

Resumen: La insuficiente información unida a la necesidad de realizar un análisis de corte histórico del atletismo en Mozambique, motivó a los autores a la revisión y búsqueda del incipiente pero siempre importante desarrollo histórico de un deporte que, como el fútbol, el básquet y el voleibol, también tiene adeptos en el país. Para su elaboración se tomaron como referente varios autores y especialistas de la modalidad, incorporando algunas partes de textos leídos para dar un sentido lógico, de forma tal que sirviera como medio utilitario para estudiantes y otros interesados, con la expectativa de poder resolver incógnitas sobre la modalidad. Se realizaron diversas búsquedas: bibliográficas y de internet, así como consultas a apasionados del deporte y participantes de las actividades deportivas en los clubes y asociaciones, que ofrecieron sus conocimientos para sustentar la formación de la juventud en esta materia. Los autores utilizaron sus experiencias teóricas y prácticas como atletas, profesionales y entrenadores en la formación de licenciados en deportes de la Escuela Superior de Ciencias del Deporte (ESCIDE). Se espera que este artículo sirva de motivación y fuente de inspiración en la búsqueda de conocimiento sobre el atletismo, su riqueza histórica y la utilidad de sus técnicas en la cotidianidad y se convierta en material de consulta de profesores y estudiantes.

Palabras clave: atletismo; retrospectiva

Retrospective of athletics in Mozambique

Abstract: The insufficient information combined with the need of carrying out a historical analysis of athletics in Mozambique, inspired the authors to the review and search of the emerging but always relevant historical development of a sport that, like soccer, basketball, and volleyball, also has followers in the country. For its development, various authors and specialists in the subject were taken into account, including some parts of read texts to give a logical meaning so it would serve as a useful means for students and anyone interested, with the expectation of being able to answer questions regarding the subject. Different searches were carried out such as: bibliographic and online searches, as well as consultations to sports enthusiasts and participants of sports activities in the clubs and associations, who offered their knowledge to support the training of youth in this subject. Authors used their theoretical and practical experiences as athletes, professionals and coaches in the training of bachelors in sports of the Graduate School of Sports Sciences (ESCIDE, by its initials in Spanish). Authors expect the article to serve as encouragement and inspiration in the quest for knowledge concerning athletics, its historical richness and the usefulness of its techniques in everyday life, and also hope the article becomes consultation material for teachers and students alike.

Keywords: athletics; retrospective

 

Introdução

O atletismo é uma modalidade base, da qual parte a maioria dos desportes terrestres. Os exercícios de atletismo são um meio excecional para aumentar a capacidade do rendimento físico geral. Com eles, desenvolvem-se e aperfeiçoam-se da melhor forma o sistema cardiorrespiratório e o sistema nervoso, assim como as qualidades físicas básicas: força, velocidade, resistência, flexibilidade e agilidade, proporcionando melhor o cumprimento das tarefas do cotidiano (Frómeta, E. e K. Takahashi, 2004).

A palavra atletismo, sob forma de competição teve sua origem na Grécia, foi derivada da raiz grega, "athi, competição", o princípio do heroísmo sagrado grego, o espírito de disputa, o ideal do belo etc. - o que se chamou de espírito agonístico. surgiram então as competições que foram perdendo o carácter de religiosidade e assumindo exclusivamente o carácter desportivo. o romano juvenal sintetizou a expressão com "mens sana in corpore sano" a própria filosofia do desporto, mas a sua essência não muda ao longo dos séculos.

Embora imprecisos, os primeiros antecedentes históricos datam 3.500 anos a.d.C. Os egípcios foram os primeiros em desenvolver o atletismo como desporto sobre a décima segunda dinastia, aonde também se incluía a carreira a pé (Mansilla, 1994).

Considera-se que foram os irlandeses do período precéltico e os gregos da Acadia, junto a seus vizinhos os cretenses da época minoica, os primeiros povos que começaram a praticar regularmente o atletismo como desporto de competição, aproximadamente 2000 anos antes de nossa era, na Idade do Bronze (Bravo et al., 1990).

Antes do começo oficial dos antigos jogos da Olimpia (ano 776 a.d.C.) tinham lugar na Irlanda os Lugnas Games, depois conhecidos como os Tailtean Games. Segundo o manuscrito conservado no Trinity College do Dublín, que data do ano 1160, titulado Bock of Leins, ditos jogos se celebravam dezanove séculos antes da Era Cristã. Celebravam-se lançamentos e saltos especialidades muito arraigadas na tradição celta. Na cultura helênica As provas atléticas estão muito mais documentadas e encontramos as primeiras narrações desportivas nas obras de La Iliada e A Odisséia.

No ano 776 d.C. escreve-se pela primeira vez nas pranchas sagradas da Olimpia a vitória do primeiro campeão dos Antigos Jogos Olímpicos, Corebo de Elida, na única distância de velocidade que integrava o programa (o estádio).

A competição compreende as provas de marcha, corridas, saltos e lançamentos, bem como as provas combinadas. A corrida, saltos e lançamentos são os exercícios físicos mais naturais que constituíam o elemento principal de preparação física e dos Jogos Olímpicos da antiguidade. Nos tempos modernos ele é a modalidade desportiva base da maioria das modalidades. Os seus exercícios de são um meio excepcional para aumentar a capacidades de rendimento físico geral. Com eles se influencia da melhor forma a circulação, o sistema nervoso, assim como desenvolvem-se as qualidades físicas básicas: força, velocidade, resistência, flexibilidade e a agilidade, e integra essas qualidades físicas básicas à habilidade física. Por isso testa todas as características básicas do homem, é um desporto de pista (corridas) e campo (saltos e lançamentos), por esse motivo é conhecido como Track and Field nos países de língua inglesa, embora, athletics também seja utilizado. Desde os primeiros Jogos Olímpicos, em 1896 na Grécia, também é o desporto que atrai o maior número de pessoas aos estádios e na televisão. A entidade que rege o atletismo no mundo é a IAAF (International Association of Athletics  Federations), que foi criada em 1912 durante Jogos Olímpicos de Estocolmo na Suécia.

Actualmente Medicina, Psicologia, Biomecânica, Treino desportivo, Electrónica e outras ciências e disciplinas formam super atletas alcançando incríveis velocidades e cada vez melhores resultados, contribuem muitíssimo para o seu êxito.

Desenvolvimento

A partir destas premissas se pretende brindar restrospectiva do atletismo no Moçambique transita pelos seguintes cinco epígrafes:

1.  Ou atletismo em Moçambique (a etapa colonial)

2.  Atletismo em Moçambique após a Independência a 25 do Junho de 1975

3.  Competições em que Moçambique participou e resultados conseguidos ao longo dois anos

4.  Moçambique e vos Jogos Olímpicos

Vocês tenham uma humilde contribuição ao fomento da cultura desportiva no país. Que os fatos e exemplos que não se pressentem ou se omitam se convertam em mais que uma crítica em um incentivo para seguir cultivando nas novas gerações os conhecimentos de um desporte universal.

O atletismo em Moçambique (a etapa colonial)

Este trabalho provém da pouca documentação disponível sobre atletismo em Moçambique e seus intervenientes ao longo dos anos. Assim traz-se praticantes e colaboradores a vários níveis para relatar sobre a sua experiência na modalidade antes da Independência a 25 de Junho de 1975 proclamado pelo residente Samora Moisés Machel 1º presidente de Moçambique Independente, pondo fim ao colonialismo português.

Na colónia de Moçambique, existiam clubes tais como Real Sociedade, Indo-português, Atlético, Vasco da Gama (Mafala), Grupo Desportivo de Lourenço Marques, Real Sociedade, Sporting Clube de Lourenço Marques, Grupo Desportivo da Beira, Associação Académica de Moçambique, Benfica de Lourenço Marques, Clube 1º de Maio, Clube Militar, Ferroviário de Moçambique o mais forte de todo eles (Lourenço Marques, Beira e Nampula). Alguns dos clubes tinha a sua pista. Os atletas só se reuniam no parque José Cabral da Mocidade Portuguesa para competir, o complexo desportivo tinha 5 pistas de cinza e tinha árvores no campo (no interior). Intercâmbios em atletismo eram muito frequentes com outros países como África do Sul, Angola, Malawi, Lesoto, Suazilândia, e Portugal anfitrião colonizador.

Em torno das práticas desportivas em África e sem muitos dados que apresentar, Medeiros plantea: O atletismo foi uma modalidade muito praticada pelos anglo-saxões na Beira antes da Segunda Guerra Mundial. Depois da saída dos britânicos só ocasionalmente se realizaram torneios e campeonatos inter-clubes. Ling Pó, representando o Centro Recreativo Indo-Português foi 3º numa eliminatória dos 400 metros, de um torneio organizado pelo Clube Ferroviário em Dezembro de 1952 (Medeiros, 2013).

Por outra parte, valiosos dados proporcionou do Amaral (comunicação pessoal, 15 dezembro-2021), dizeres da atleta de basquetebol que entrou em sena no movimento desportivo antes da independência e é das pessoas mais velhas que tivemos a sorte de dialogar. Quisemos saber dela qual é a proveniência do atletismo tal como o conhecemos, a resposta veio rápida dizendo que foi trazido pelos portugueses para Moçambique fazia parte do treino militar assim como fazia parte da Educação Física escolar servia como forma de preparação física para outras modalidades sobre tudo Futebol que no período de defeso ou transição os jogadores, praticavam-no para manter ou melhorar a condição física, com essa filosofia em muitas disciplinas da modalidade destacavam-se atletas, o mais importante é que ele fazia parte de programas de competições entre clubes. Acrescentou que os africanos tinham seus desportos tais como lutas, remadas sobre troncos de árvores nos rios e mares ao longo do litoral.

Dona Josefa, a nossa interlocutora era tesoureira da Associação de Atletismo da Cidade de Maputo de 1978-81 na altura presidida pelo senhor Pais que também tinha sido bom atleta da modalidade antes da independência sobre tudo nos escalões inferiores. Alguns atletas dos anos 60/70 são:

· Mulheres: Helena Relva, Angélica Manaca Dias, Lucrécia Cumba, e Angélica Gomes.

· Homens: Eliseu Hunguana, João Albasini, Sérgio Tomé, Mialha da Costa, José Magalhães, Daniel Firmino, Óscar Carvalho e Cândido Coelho.

Relacionado com isso e importante ressaltar o trabalho apresentado pelo Pinho (2013), o qual apresentou em BigSlam um análises do atletismo em Moçambique ano de 1967, com os resultados do Torneio de promoção e deteção de novos talentos no CFLM, e indicou: "A secção de atletismo do Clube Ferroviário no dia 20 de Janeiro de 1967 organizou durante a tarde um torneio destinado a todos os seus sócios e simpatizantes com idades compreendidas entre os 12 aos 17 anos", e continuo: "Com esta iniciativa pretendeu-se conquistar para o atletismo um grande número de jovens e também descobrir novos talentos tendo saído desta iniciativa alguns dos melhores atletas de Moçambique".

Nessa competição se destacou a atleta Lucrécia Cumba que realizo uma marca nos 70 metros barreiras de 11,1 seg. Melhor que o recorde nacional de Portugal, conforme apontou Pinho (2013). Esta marca no entanto não foi homologada, visto este torneio não ter tido um número suficiente de cronómetros.

Outros vencedores das provas foram em 70 m com Barreiras (Fem) Lucrécia Cumba (11,1 seg); 60 m Juvenis (Fem) Arcagela Madeira (8,6 seg); 80 m Juvenis (Masc) Victor Pinho (10,1 seg); 700 m Juvenis (Masc) Caldas Dias (2.35,7 seg); 1000 m Juniores (Masc) José Silveira (3.07,4 seg); Salto de Altura Juvenis (Fem) Emília Chemane (1,30 m); Salto de Altura Juniores (Masc) António Saraiva (1,62 m); Disco Juniores (Fem) Angélica Gomes (23,46 m); Impulsão do Peso Juvenis (Masc) Caldas Dias (8,80 m); Impulsão de Peso Juniores (Masc) José Loureiro (8,60 m); Impulsáo do Peso Iniciados (Masc) A. Coelho (6,14 m); 600 m Juniores (Fem) Lucrécia Cumba (1.56,9 seg); 3000 m Seniores (Masc) Francisco Ducodo (9.51,7 seg); 80 m Juniores (Fem) Elsa Penetra (10,1 seg); 60 m Iniciados (Masc) J. Mendonça (8,1 seg); Salto de Altura Iniciados (Masc) J. Mendonça (1,50 m); Impulsão do Peso Juvenis (Fem) Hortência M. Céu (8,20 m); e Disco Seniores (Fem) M. Josefa Ferreira (25,10 m).

Pinho (comunicação pessoal, 12 de maio de 2021) atleta do Sporting Clube de Lourenço Marques nesse momento, treinado pelo sr. Luís Revés em 1971, indicou que tinha como concorrência interna nas provas de 200 m, 400 m e 400 mb os atletas Abdul Ismail, Domingos Langa, Rogério Costa, Stélio Craveirinha, David Nhampule, Amadeu Chande, Eduardo Costa, Domingos Mendes, o atleta fenomenal na altura era o José Magalhães, disse também que as provas realizavam-se ao fim de semana e o início de época era sempre com as provas de corta mato que se faziam na zona baixa da cidade de Lourenço Marques hoje Maputo, precisamente onde construíram-se edifícios da TVM, Jet, BIM, Bombas de gasolina, MCel, e outros, e os treinos eram depois do trabalho, por amor a camisola, atletas também provinham do Serviço Militar, os mais novos provinham da Educação Física escolar e Mocidade Portuguesa.

As provas de pista começavam com Torneio de Abertura, seguiam-se Campeonatos Provinciais e Nacional, os atletas eram fortes que participavam em desafios internacionais disputando com atletas provenientes da África do Sul, Rodésia, Suazilândia, aos melhores atletas da colónia representavam Portugal. Existia a légua 24 de Julho muito concorrida que fazia-se precisamente no dia 24 de Julho de cada ano partindo da praça junto a Toyota o percurso era ao longo da Av. 24 de Julho até ao restaurante Piri-Piri. A prova era ganha frequentemente pelo atleta António Panganhane Repinga (1º Moçambicano a fazer uma prova de maratona equivalente a 42 km 195 m, homenageado com a implantação de um circuito de manutenção física em seu nome na baixa da cidade de Maputo.

Para outras provas os melhores eram Angélica Manaca Dias, Lucrécia Cumbe, José Magalhães este último (rompeu com a história e com radicalização da estratificação social subjacente à discriminação racial, característica da política da administração colonial portuguesa, sagrando-se recordista nacional de Portugal e suas colónias dos 200 e 400 m, foi distinguido em Moçambique como o Melhor Atleta do século XX e Cândido Coelho distinguido como Atleta Completo do século XX na Gala Atletismo 2000, foi homenageado pela Universidade Eduardo Mondlane através da Escola Superior de Ciências do Desporto (ESCIDE), nascido o 16 de Janeiro de 1938, sempre representou o Clube Ferroviário de Moçambique.

Na dinâmica da modalidade antes da independência há um nome que se destaca o do professor Vilela que exercia função de treinador. Referiu-se também que os atletas dos tempos passados eram muito regrados, sem vícios, deixando todo para mais tarde. Beneficiavam de equipamento, lanche, transporte do clube, apoio e conselhos dos pais.

Nos Clubes existiam Departamentos de Atletismo que geria as inscrições, as competições, os atletas, o equipamento desportivo inclusive os material e fundos. Os Clubes caracterizavam-se pelo associativismo (filiação e pagamento de cotas) e outras fontes como patrocínios, feiras e quermesse para angariação de fundos além de juntar os seus associados. 1969 Fevereiro 1º curso de Monitores de Atletismo, participaram estudantes e professores que fomentaram o atletismo em Moçambique. Associação de Treinadores de Atletismo de Moçambique (ATAM - 1971) – “Nambauane” de Victor Pinho. De entre as tarefas da ATAM formação, divulgação e normação do atletismo em Moçambique através de torneios de divulgação nos distritais de Lourenço Marques (Maputo) e distrito de Rossano Garcia, atletismo nas escolas primárias, parque José Cabral com a colaboração da Mocidade Portuguesa e Ministério de Cultura de Moçambique.

Assim operavam na cidade de Lourenço Marques vendedores de material desportivo tais como casa Lido, Somorel fornecedores de tudo sobre o desporto.

Atletismo em Moçambique após a Independência a 25 de Junho de 1975 

1977, na sequência de abandono de colonos de Moçambique para outros lugares e políticas vigentes na altura e para incentivar a prática desportiva, o 1º Presidente da República Popular de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, reuniu-se com os atletas no então parque José Cabral da Mocidade Portuguesa onde apelou a prática do desporto em especial atletismo e ainda recomendou (instituiu) a prática do desporto nas empresas assim como as empresas se deviam associar aos clubes para a sobrevivência destes pois os sócios haviam reduzido e ou mesmo abandonados os clubes, assim com essa orientação muitas empresas estatais, assumiram o apoio aos clubes. Desde 1977 desencadeou-se a massificação do desporto nas escolas, bairros e empresas conseguiu levar o desporto para os clubes incluindo o atletismo.

Assim nasceram novos clubes tais como Matchedje, Sabrina, Rodoviário, EMA-Chimoio, Núcleo Desportivo de T3, Avícula de Chimoio, Estrela Vermelha (junção de clube da Malhangalene e Indo-Portugues). Com a integração dos clubes nas empresas melhorou a participação dos atletas em competição e a própria competitividade. Reabilitou-se o Parque José Cabral (ampliou-se a pista, renovou-se a pista de cinza e tiraram-se as árvores que estavam dentro do campo) e inaugurou-se o complexo com o nome Parque dos Continuadores. A pista que era de cinza durou até 1998 e fez-se a segunda reabilitação transitando de cinza para tartan.   

Em paralelo com a massificação do desporto desde 1977, foram se melhorando os modelos de formação dos professores de Educação Física para assegurar o ensino da actividade física e prática desportiva no âmbito dos Jogos Escolares. Em 1978, foi criada FMA, filiada na Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF), presidida por sr. Óscar de Carvalho, promove a primeiro Campeonato Nacional.

Nos anos Após a independência era preocupação política e exigia-se a presença de Moçambique em competições internacionais sobre tudo nos Jogos Olímpicos, deste ponto de vista apareceram novos atletas tais como Vicente Daniel, Atomane Rajá, Carlos Fornasini, Constantino Reis, Paulo Noronha, Emílio Tembe, Pedro Mulomo, Loforte, mais tarde, Lurdes Mutola, Argentina Da Glória, Curti Couto entre outros tantos. Entre 1980 e 1982, desintegrou-se a direcção da Associação de Atletismo da Cidade do Maputo presidida pelo sr Pais que acumulava experiência como treinador, por motivos pouco claros.

O poeta José Craveirinha fez jus ao seu saber de treinador ao encaminhar Maria de Lurdes Mutola do futebol para o atletismo pois foi atleta e posteriormente treinador no clube Atlético Nacional no tempo de colónia de Moçambique e treinava os atletas Marcelino dos Santos, Wilson e outros no campo de Mahafil. O atleta que se destacou pela longevidade na prática desportiva se não mesmo uma vida dedicada à modalidade que aos 16 anos de idade já se destacava nas provas de velocidade e salto em comprimento, competiu até aos 46 anos seu nome é Stélio Craveirinha filho do poeta mor José Craverinha, fez a transição antes e depois da Independência de Moçambique sempre no Grupo Desportivo de Maputo, 1º treinador da atleta Lurdes Mutola nos anos 80, continua treinador no activo actualmente e é referência em Moçambique. Eduardo Costa é outro dos atletas que fez transição antes e depois da independência e se destacava nos 100 m, 200 m, 400 m, 800 m e sobre tudo no salto em comprimento com a marca de 6.98 m aos 16 anos.

Competições em que Moçambique participou e resultados conseguidos ao longo dos anos

Moçambique participa com regularidade em os Jogos Africanos e Jogos da CPLP, Jogos da Commonwealth (único país que não fala língua anglosajona) e o atletismo tem contribuído muito para a classificação geral e com alguns destaques nos resultados. A Federação Moçambicana de Atletismo (FMA) publicou no Wikipedia os recordes nacionais de atletismo.

Nestas estatísticas vinculados aos record nacionais reconhecidos, se realça os 9 record (200 m, 400 m, 600 m, 800 m, 1000 m, 1500 m, Mile, 2000 m e 3000 m) em Estádio ar livre e 3 record (800 m, 1000 m, 1500 m) em Pista coberta, da atleta maior do Moçambique Maria Lurdes Mutola, um deles, record mundial em 1000 m com tempo de 2:29.34 realizado o 25 Agosto 1995 no Memorial Van Damme (Brussels, Belgium).

A qualidade das marcas representam percentagens muita separadas das melhores marca mundiais e da região, amostras disso é que nos Ranking mundiais consultados não aparece atleta algum entre os 100 classificados, situação que coloca ao atletismo moçambicano em uma situação muito desvantajosa em suas aspirações do menos participar decorosamente em umas olimpíadas ou mundiais.

Também se observam record e marcas muito pobres que geralmente possuem mais de 10 ânus, o que reflete o estancamento e retrocesso deste desporto cujas potencialidades humanas não se foi capaz de desenvolver no país em relação com outros países africanos, com iguais ou piores condicione para sua prática e desenvolvimento.

Moçambique e os Jogos Olímpicos

Moçambique participou da XXII edição Moscovo 1980, XXIII edição Atlanta1984, XXIV edição Seul 1988, XXV edição Barcelona 1992, XXVI edição Atlanta 1996, XXVII edição Sídney 2000 até aos dias de hoje representando-se regularmente nas competições de atletismo. A modalidade atingiu o auge de representatividade com a atleta Maria de Lurdes Mutola (nasceu a 27 de outubro de 1972 no bairro de Chamanculo - arredores da cidade de Maputo) cuja história assim se relata, não tendo sido aceite a sua participação no campeonato de futebol de juniores masculinos, com 14 anos inicia-se no atletismo e fez ao longo de mais de 10 anos alta competição a níveis dos Campeonatos Africanos, das Olimpíadas, dos Mundiais e Meeting Internacional com profissionalismo.

É a primeira moçambicana a ganhar uma medalha de ouro para Moçambique sagrando-se campeã dos 800 m rasos nos Jogos Olímpicos de Sidney 2000, além da honrosa medalha de Bronze em Atlanta 1996, detém o recorde do Mundo dos 1000 metros em pista coberta e em pista aberta, recorde africano dos 1000 metros em pista aberta e o recorde africano dos 800 metros em pista aberta. Maria de Lurdes Mutola para as suas categorias é detentora até então de todos os recordes de Moçambique. Desde 2000 toma parte na Comissão de Atletas do Comité Olímpico Internacional, posição que ocupa até hoje.

A atleta era pequena de estatura mas de somatotipo forte (162 cm de altura e 61 kg de peso). Nasceu no bairro de Chamanculo da cidade de Maputo e desde criança foi ligada nos desportes.

Não tendo sido a sua participação aceita no campeonato de futebol de juniores masculinos, com 14 anos inicia-se no atletismo. Filha de pai operário dos serviços portuários e caminhos de ferro e mãe doméstica, Maria de Lurdes Mutola é de família humilde.

Em 1988, beneficia da bolsa de solidariedade olímpica para os países do terceiro mundo e passa a residir no estado do OregonEstados Unidos, onde frequenta e conclui o Liceu. Desde então, não parou de correr e já venceu uma centena de provas internacionais, colocando-se entre os maiores do atletismo internacional.

Mutola detém o recorde mundial dos 1000 metros em pista coberta e em pista aberta, recorde Africano dos 1000 metros em pista aberta, recorde Africano dos 800 metros em pista aberta. Em 1995 consagra-se vencedora do Grande Prémio da IAAF - Federação Internacional de Atletismo Amador.

Foi três vezes campeã africana (uma das quais em 1500 metros), e duas vezes no campeonato dos Jogos Pan-Africanos.

A menina que queria ser futebolista tornou-se campeã de atletismo e a primeira moçambicana a ganhar uma medalha de ouro para Moçambique.

Em 2000 foi eleita para tomar parte na Comissão de Atletas do Comité Olímpico Internacional, posição que ocupa até hoje.

Maria de Lurdes Mutola é detentora de todos os recordes de Moçambique para as suas categorias. Sua carreira desportiva indica que em:

Ano 2003

• Campeã Mundial dos 800 metros - Edmonton/ Canadá - Pista Aberta • Campeã Mundial dos 800 metros - Lisboa/ Portugal - Pista Coberta • Vencedora do Meeting do Mónaco/ Espanha - 800 metros pista • Vencedora do Meeting de Zurique/ Suíça - 800 metros pista • Vencedora do meeting de Paris/ França - 1000 metros pista aberta • Vencedora do Meeting de Nova Iorque/ USA - 800 metros • Vencedora do Meeting de Eugen/ USA - 800 metros • 2ª Classificada no Meeting de Oslo/ Noruega - 800 metros • 2ª Classificada no Meeting de Paris/ França - 800 metros

Ano 2000

• Campeã Olímpica dos 800 metros - Sydney/ Austrália - 800 metros • Vencedora do Meeting de Bruxelas/ Bélgica - 800 metros

Ano 1999

• Vencedora do meeting de Estocolmo/ Suécia - recorde dos 1000 metros em pista coberta

• Vencedora do meeting de Zurique/ Suíça - 800 metros • Vencedora do meeting de Nice/ França - 1000 metros • Vencedora do meeting de Munique/ Alemanha - 800 metros pista coberta • Vencedora do meeting de Meebashi - 800 metros pista aberta • 2.ª Classificada no Campeonato Mundial de Sevilha/ Espanha - 800 metros pista aberta.

Ano 1998

• Campeã de África no Meeting de Joanesburgo - 800 metros pista aberta • Vencedora do Meeting de Zurique/ Suíça - 800 metros pista aberta

Ano 1997

• Vencedora do Meeting de Paris/ França - 800 metros pista Coberta • Vencedora do Meeting de Colónia/ Alemanha - 800 metros • 2.ª Classificada no Meeting de Fukuoka / Japão- 800 metros • 3.ª Classificada do Meeting de Atenas/ Grécia - 800 metros

Ano 1996

• Vencedora do Meeting de Oslo/ Noruega - 1 Milha • Vencedora do Meeting de Zurique/ Suíça - 800 metros • Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta/ EUA - 800 metros

Ano 1995

• Campeã Mundial de Pista Coberta Barcelona/ Espanha - 800 metros • Vencedora do Torneio da IAAF - Grande Prémio da MOBIL - 800 metros • Vencedora do Meeting de Gotemburgo - 800 metros • Vencedora do Meeting do Mónaco - 800 metros • Vencedora do Meeting de Bruxelas - 1500 metros

Ano 1994

• Vencedora do Meeting de Londres/ Inglaterra - 800 metros • Vencedora do Meeting de Langenthal - 200 metros • Vencedora do Meeting de Mónaco - 400 metros • Vencedora do Meeting de Zurique/ Suíça - 800 Metros

Ano 1993

• Vencedora do Torneio da IAAF - Grande Prémio da MOBIL em Londres/ Inglaterra- 800 metros • Campeã Mundial dos 800 metros em Estugarda/ Alemanha • Campeã Mundial dos 800 metros em pista coberta em Toronto/ Canada • Vencedora do Meeting de Nice/ França - 1500 metros

Ano 1992

• Vencedora do Meeting de Havana/Cuba dos 800 metros • Vencedora do Meeting de Barcelona/ Espanha 1500 metros • 9.ª Classificada nos Jogos Olímpicos de Barcelona/ Espanha - 1500 metros • 5.ª Classificada nos Jogos Olímpicos de Barcelona/ Espanha - 800 metros • Vencedora do Meeting de Eugene/ EUA - 2000 metros

Ano 1991

• 4.ª Classificada nos Campeonatos Mundiais de Atletismo Tóquio/ Japão - 800 metros • Vencedora do Meeting de Eugene/ EUA - 1500 metros • Vencedora do Meeting de Springfield/ EUA - 3000 metros

Ano 1990

• Vencedora do Meeting de Springfield/ EUA - 5000 metros

Ano 1988

• 7.ª Classificada nos Jogos Olímpicos de Seul/ Coreia do Sul- 800 metros • Campeã Moçambicana de Atletismo

Outra atleta moçambicana destacada foi Argentina da Gloria deixou suas marcas na alta competição porém no ano 2002, acusou positivo num controle anti-doping numa das competições em que participou nos Estados Unidos de América e foi ouvida pela Federação Moçambicana de Atletismo. Curt Couto é também um dos atletas Moçambicano que foi dando o seu contributo nos JO e Mundiais representando Moçambique. Actualmente é no desporto paralímpico onde se tem conseguido sucessos para Moçambique com a atleta Maria Muchavo da classe T-12 sendo detentora do recorde africano nos 100 m com o tempo de 13 segundos e 11 centésimos estabelecido nos mundiais de atletismo para deficientes em Lyon em Julho de 2013 por outro lado o atleta Gildo Zacarias competiu no atletismo na categoria T11 na prova dos 400 m e atingiu a final tendo ficado na oitava posição.

A atleta Edmilsa Governo outra de entre os melhores atletas no mundo conquistou a medalha de ouro nos Jogos Africanos de Brazzaville, República do Congo e medalha de bronze nos 400 m nos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro 2016 e medalha de prata nos Paralímpicos de Londres 2017.

 

Conclusão

A partir do estudo realizado-se manifesta que o atletismo moçambicano de possui uma estrutura de gestão e direção de forma geral muito parecida com a generalidade dos países africanos, teve seu desenvolvimento como todos os desportos no país a partir de sua independência. Vinculado a isso, ressaltam os lucros da Campeã olímpica e várias vezes mundial Maria do Lurdes Mudo-a como principal representante no âmbito internacional.

Referencias

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